Se prepare para um novo tsunami de lixo virtual
Com o surgimento dos Agentes de IA vamos ter uma enxurrada de conteúdo raso e genérico sendo produzido. Como podemos nos salvar dessa infotoxicação!?
Hoje a conversa na nossa mesa vai por um caminho mais tecnológico. 🤓
Digno de um nerd com TDAH, meu hiperfoco não se restringe somente a hobbies. Às vezes, consigo direcioná-lo para assuntos que podem me ajudar profissionalmente.
Foi assim que me aprofundei em aprender sobre “Agentes de Inteligência Artificial”. São, basicamente, como "robôs virtuais" programados para executar tarefas; viram assistentes — pessoais ou de negócios.
O uso desses agentes está crescendo e se democratizando em um ritmo sem igual. Uma fábrica de produção em massa onde qualquer um pode criar sem nem saber sobre programação.
Com um vídeo no YouTube, eu construí o meu primeiro assistente de e-mails e agenda que funciona por mensagem no Telegram — logo alguém transforma esse conteúdo em curso pago!
Todas as possibilidades me fascinaram. Mas uma preocupação surgiu: a montanha de conteúdo que esses agentes vão despejar na internet
Por isso, a conversa desta semana começa com um alerta: prepare-se para uma enxurrada de lixo digital produzido por Inteligência Artificial que está chegando aí.
Todo esse conteúdo raso, produzido em massa, vai nos atingir por todos os lados e vai moldar ainda mais alguns hábitos atuais — negativamente.
Sendo assim, temos como fugir dessa enchente? Há alguma saída saudável a não ser desconectar e sair das redes?
Pega seu café e senta aí! Vem comigo nessa conversa.
Prepare-se para um enxurrada de lixo digital
Estamos à beira de uma enchente, ou melhor, um tsunami de conteúdo gerado por Inteligência Artificial feito somente para atender métricas de engajamento.
Um infodumping digital como não tínhamos visto até então.
O conteúdo artificial já está presente nos nossos feeds desde que o uso de IA se popularizou, no entanto agora, estamos caminhando para um próximo nível.
Nesse tipo de material não há necessidade de comunicar algo genuíno, nem uma fagulha de preocupação com a criatividade ou por uma história que precisava ser contada.
O que importa é atender às métricas de performance do algoritmo.
Conteúdo raso, genérico, requentado. Feito para ser detectado, indexado e distribuído pela máquina, na esperança de capturar um microssegundo da nossa atenção.
O objetivo não é mais informar, inspirar ou conectar. É engajar — a qualquer custo.
E quem alimenta essa máquina?
Além dos usuários, que consomem passivamente tudo que chega no feed, as próprias plataformas (principalmente) são as maiores interessadas nesse mecanismo.
Nesse ponto, os agentes de IA entram como a engrenagem ideal para rodar essa máquina de produzir conteúdo digital.
Desde o primeiro anúncio da Open AI sobre o tema, o assunto vem crescendo e ganhando palco em diferentes cenários e redes sociais.
O LinkedIn já está cheio de gente vendendo agentes que vão aumentar suas vendas, ou falando como estão criando seus próprios agentes para otimizar sua vida ou empresa.
No YouTube, não faltam vídeos falando disso, e a quantidade só aumenta.
Se quiser se aprofundar sobre o tema, recomendo aprender com a Tina Huang. O canal dela ensina muito sobre IA e afins e tem um approach bem mais didático e menos coach de bitcoin.
Como neste começo tudo é descoberta, estão testando várias funcionalidades dos agentes e usando isso para gerar mais conteúdo sobre o tema.
Vi um vídeo que ensinava a criar um agente que buscava todas as suas reuniões do calendário e te mandava uma mensagem às 7:30 via Telegram com o resumo do que você tinha que fazer ao longo do dia.
O comentário mais curtido era: "Não era mais fácil abrir o calendário e ver?"
A tecnologia tem disso: às vezes, precisam complicar coisas simples para que o uso se justifique e se dissemine mais rapidamente. Essa estratégia tem funcionado muito bem, pois o engajamento é alto.
Entre tantas funcionalidades, tenho notado que o tema de “geração de conteúdo digital” está sempre em pauta.
Em alguns dos vários posts do LinkedIn, vi um criador de conteúdo compartilhando o código dos seus agentes de "gestão de negócios" em troca de seguidores e engajamento (olha o custo baixo!).
Esseque, na real, são .
A promessa desse criador? Verdadeiras máquinas de produzir conteúdo para plataformas digitais.
Um fluxo para criar um agente que iriam produzir e postar os materiais em 11 redes sociais diferentes, de forma automática, rápida, incessante — eu nem sabia que existiam tantas redes sociais assim!
Sem surpresa, vi que vários usuários tinham curtido a publicação e estavam comentando “QUERO” para obter esse código.
Parecia até que ele tinha descoberto o Santo Graal do vendedor de conteúdo digital — os info produtos.
Esses foram só alguns exemplos do uso de agentes. As possibilidades são quase infinitas, pois o acesso a essa tecnologia é fácil, rápido e barato.
Assim, qualquer um pode criar sua máquina de vendas, de produção de conteúdo ou de criação de softwares usando inteligência artificial.
Os avanços tecnológicos são tremendos; afinal, os agentes de IA estão começando a fomentar debates sobre o futuro do trabalho, dos serviços de software e de algumas profissões.
Falarei mais do tema na próxima edição de Conversas no Corredor, minha outra news.
Aqui, nesta conversa à mesa, do bar ou do café, quero falar do impacto que os agentes estão tendo na Economia da Atenção — que recompensa frequência, volume, viralização e engajamento fácil — e seus usuários.
Quanto mais "coisa" circulando, mais tempo de tela, mais dados e, consequentemente, mais anúncios vendidos.
A IA, nesse cenário, não é a vilã por si só; ela é a ferramenta perfeita para turbinar um sistema que já estava viciado em quantidade, não em qualidade.
A qualidade se afogando na quantidade
Aqui no Substack já tem muito bot criando newsletter — e vão aparecer mais. Também não faltam notas reclamando de conteúdo que é assim ou assado.
A mensagem fica em segundo plano, pois a preocupação sobre o uso de IA fica reduzida a saber se o texto tem ou não travessão — mesmo quando usado corretamente.
Se fosse só isso, estaria fácil resolver o problema.
Para quem usa LinkedIn, já reparou que a rede está cheia daqueles "insights" que parecem profundos, mas não dizem nada de novo? “Hoje cedo ao tomar meu café da manhã percebi que não tinha pão, em meio a essa adversidade fiz uma panqueca…”
Ou no Twitter, com threads "informativas" que são só um resumo superficial ou alguma de um conteúdo qualquer? “Sabia que a Terra não é exatamente redonda?Segue o fio…”
E o TikTok e Instagram, com aquelas "dark accounts" vomitando vídeos narrativos feitos por IA, com vozes robóticas e informações duvidosas?
Essa proliferação desenfreada cria uma infotoxicação digital.
Um ambiente digital poluído, onde fica cada vez mais difícil encontrar informação relevante, perspectivas originais ou simplesmente algo que valha nosso tempo em meio a tanta propaganda disfarçada de conteúdo.
A autenticidade e a qualidade viram agulha no palheiro, pois o algoritmo foi treinado a associar relevância com métricas de alcance — SEO (Search Engine Optimization), acessos, visualizações, interações, etc.
Isso sem falar na quantidade de energia para produzir e armazenar essa quantidade de informação digitalmente, mas isso é pauta para outra edição.
Pelo fato de ser digital, intangível, não conseguimos perceber que a sujeira gerada por um anúncio digital pode ter mais impacto do que o folhetim de promoções do mercado do seu bairro — às vezes é maior que todo o material impresso.
Essa matéria do The Ecologist relata que uma única campanha online com 1 milhão de impressões pode gerar emissões de carbono equivalentes a uma viagem de ida e volta de avião entre Boston e Londres.
Vamos nos habituando a ver tanto lixo digital e só ir desviando, ou até fechando, quando possível.
Nisso, inconscientemente, sofremos dos gatilhos de consumo que acabam normalizando hábitos que dão origem à ansiedade, compulsividade e frustração.
Os únicos beneficiados nesse processo são as corporações que lucram com nossa atenção — que está cada vez mais barata.
Não podemos esperar sentados que as plataformas resolvam isso magicamente.
Afinal, elas sempre privilegiaram a frequência e a renovação constante de conteúdo — mesmo que de qualidade duvidosa.
Onde esse efeito pode doer para as plataformas?
Eu me pergunto se tanto lixo online vai continuar gerando o mesmo engajamento daqui para frente.
Será que as marcas vão continuar vinculando sua imagem a plataformas com conteúdos de qualidade questionável?
Pular um anúncio, usar ad-block ou não entrar em sites com muitas propagandas são ações que doem para o marketeiro que tanto pensou no ROI (retorno sobre o investimento) daquela publi.
As marcas não contratam influenciadores que tiveram posicionamentos ou atitudes polêmicas, pois isso, além de ter associação de imagem, reduz as vendas.
Da mesma forma, se os usuários estão migrando para outros locais com menos anúncios ou conteúdos irrelevantes, então as marcas vão mudar sua estratégia e posicionamento.
Talvez, se começar a doer no bolso, as plataformas tomem alguma ação ao verem seus feeds inundados por irrelevância artificial.
Depois do boom das Lives NPC, o TikTok restringiu seu alcance e bonificação. Já vi alguns vídeos falando que estão fazendo o mesmo com os “dark posts”.
Enquanto os lucros das plataformas e redes sociais não forem afetados especificamente por esse fator, vai ser muito difícil termos alguma diretriz que restrinja o alcance de conteúdo artificial produzido em massa e beneficie a produção de conteúdo real e autoral.
Igual esse post da
: que bonito o ‘slow content’, mas a gente combinou com o algoritmo?Tu te tornas eternamente responsável pelo feed que cultivas.
Se as plataformas não têm motivos e incentivos para fazer algo, então cabe aos usuários tomar alguma ação.
Pelo bem da nossa saúde mental, precisamos fazer algo — e cada vez mais — para manter uma presença digital minimamente saudável.
Lembra quando conversamos sobre silenciar stories que não nos fazem bem? Sobre ter uma postura ativa em relação ao que consumimos? Pois é, essa ideia vai ser nossa maior arma contra esse infodumping.
Se não viu ainda, confira este texto abaixo:
Story Silenciado - não é pessoal (é, talvez seja)
Quantas vezes você já se pegou rolando o feed, vendo um conteúdo que você não curtiu, que te gatilhou ou que não te representa e simplesmente deixou passar? A gente fala muito sobre o que gosta de ver nas redes. Mas e sobre o que não queremos ver?
Diante dessa enchente anunciada, a responsabilidade recai, mais do que nunca, sobre os usuários.
Tu te tornas eternamente responsável pelo feed que cultivas. Você tem o poder – e, diria até, o dever – de filtrar. Ser o curador do próprio conteúdo e forçar o algoritmo a trabalhar ao seu favor, não contra você!
Sair das redes sociais não é barato e, muitas vezes, nem é uma opção — e já tem muito conteúdo aqui sobre isso. Então, a solução é tentar tornar a presença digital mais saudável.
Não se trata de rejeitar a tecnologia, mas de usá-la com intenção. E, principalmente, de ser implacável na curadoria do que entra na sua mente — inconscientemente, por um feed projetado para isso.
Silenciar não é só sobre pessoas, é sobre tipos de conteúdo. No texto acima, há várias dicas de como fazer isso ativamente.
É, de certa forma, um pequeno ato de rebeldia contra a maré da mediocridade algorítmica.
Pense nisso como jardinagem digital. Você não deixa qualquer erva daninha tomar conta do seu quintal, certo? Você escolhe o que plantar, o que regar e, principalmente, o que podar.
Nossa tela, independente do aplicativo ou rede social, merece o mesmo cuidado, pois ele é sua porta de entrada pro mundo virtual.
Já diria aquele ditado: Camarão que não nada, a onda leva
Essa enxurrada de conteúdo artificial vai chegar tão rapidamente que nem vamos perceber. E Isso também é uma estratégia.
Enquanto ficamos discutindo se devemos ou não usar o travessão, as nuances da IA estarão nas ideias, nos ideais, nos conceitos e vieses que vão chegar ainda mais rápido e dominarão o inconsciente coletivo.
Não é teoria da conspiração. É só um alerta — à la Black Mirror — de um cenário que está se desenhando rapidamente à nossa frente.
Estar alerta é o primeiro passo. Quando entendemos algo, podemos tomar alguma ação em relação a isso.
Fazer nada é sempre uma opção. Mas, independente da escolha, uma coisa é certa: sempre haverá consequências.
Neste caso, a inação dá forças ainda maiores para as plataformas e corporações imputarem seus desejos em nossas personalidades.
A autenticidade, que já vem sendo muito discutida atualmente, fica cada vez mais em segundo plano. As personalidades ficam moldadas em torno de um sistema centrado no consumo.
Num mundo prestes a ser inundado por cópias baratas, a coisa mais valiosa que podemos cultivar é um espaço – mental e digital – minimamente saudável e autêntico.
Precisamos cuidar de nós mesmos antes de procurar salvar o mundo. Se não prestarmos atenção nesses movimentos enquanto eles estão surgindo para tomar alguma ação, vai ser muito difícil fazer algo depois.
Aí não adianta ficar reclamando no Twitter.
Por enquanto, ainda temos uma arma poderosa em nossas mãos: o poder de escolher — nem que seja para silenciar um post.
Precisamos fazer algo enquanto esse poder ainda está em nossas mãos. Quem sabe assim, se o movimento coletivo for direcionado para o bem-estar digital, as plataformas tomem alguma atitude a favor dos usuários e não tanto das marcas.
Nesse tsunami de informações que vem chegando aí a escolha é sua: boiar à deriva na enchente de lixo digital ou encontrar e criar um lugar seguro para se proteger.
Conheça o Conversas no Corredor
Venha conferir minha outra newsletter que uso para falar dar dicas e falar sobre temas do mundo corporativo que todo CLT deveria aprender.
São aquelas conversas que eu gostaria de ter tido com meu gestor ao longo da minha carreira — insights que fazem a diferença, mas que nem sempre surgem em reuniões ou treinamentos formais.
Por isso, chamei de Conversas no Corredor: aprendizados que acontecem naquele papo despretensioso enquanto tomamos um café.
Se quiser acompanhar, já pega o seu café e vem comigo! 🔥💼
Se liga nesse texto publicado:
Tema super importante, Adil. Confesso que fico meio assustada com o caminho que as coisas estão tomando. Obrigada pela menção ao meu texto.